quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A tradição do Origami

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Imagem: Augusto de Freitas Alves

Desde os mais remotos tempos, o grou (tsuru) ocupa um lugar privilegiado no mundo do origami. Primordialmente, ela simboliza a paz. Até hoje, fazer mil grous em origami significa sempre um desejo a ser realizado: a recuperação de um ser doente, a felicidade no casamento, a entrada para a Universidade, a obtenção de um bom emprego.
   A primeira referência sobre a tradição das 1.000 grous se encontra relatada no livro “Senbazuru Orikata” (Dobradura de 1.000 garças) de Ro Ko Na, publicado em 1797. Nessa época, o papel utilizado era o “washi”, artesanal, fino e resistente, cuja fabricação data do período Nara (710 – 794). Hábeis artistas podiam obter de 10 a 100 garças em uma única folha de papel, conforme dobras e cortes que efetuassem.
Ainda hoje, o método básico – tipo grou– estabelecido pelo “Senbazuru” obedece a mesma seqüência.

Há ainda outros dois livros que são considerados relíquias da arte do origami: o “Orikata Tehon Tyusingura” (Manual para dobrar figuras da peça kaburi Tyusingura) datado de 1800 e o “Kayaraso”, de 1845.
   O primeiro que aborda um épico famoso no Japão – o dos 47 samurais que vingam a honra de seu suserano afrontada injustamente – foi impresso em xilogravura, em folhas avulsas de 45 x 30 cm. Num total de 12 folhas duplas, elas trazem de um lado, o desenho do cenário e das posições dos artistas; de outro, a maneira de dobra-los.
    O segundo, “Kayaraso”, de autoria de Kazuyuki Adachi, é uma compilação de todas as informações possíveis sobre origami, recolhidas até aquela data. Trata-se de um importante livro, pois traz o modo de dobrar os utilizadíssimos “noshi”.
“Noshi” são envelopes artisticamente dobrados em fino papel artesanais, nas cores vermelho e dourado, e que encerram algum valor em dinheiro. São utilizados até hoje para comemorar nascimentos, casamentos, o dia das meninas (Hinamatsuri dia 3 março) e como oferendas religiosas nos templos shintoístas.
     O “Kayaraso” ainda traz dobraduras para aranha, macaco, camarão e bonecos principalmente para o Dia das Meninas totalizando 36 modelos, dos quais muitos foram explorados no presente livro, comprovando sua atualidade.
    Finalmente, existem ainda os “origami tsuki” que funcionavam como um selo de qualidade, conferindo autenticidade a documentos de valor (apólices de seguros, escrituras, doações etc) ou atestando a origem do fino trabalho dos artesãos de espadas. Também eram usados em oferendas religiosas nos templos.
    Como se pode depreender do exposto, é difícil dissociar o origami do cotidiano japonês. Desde os imemoriais tempos em que, guardar um quimono, pela manhã e à noite, era uma verdadeira aula de origami e até hoje, quando o manuseio de minúsculos componentes eletrônicos exige a total exploração da chamada motricidade fina.

Fonte (adaptada): Horiuchi, Kazuko; “Origami em Calendário”; Fundação Japão

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